Complexo de culpa: essa é a forma como se pode designar o
sentimento quando se abandona um livro pela metade. É verdade, existe um
estigma sobre esse tipo de comportamento, como se fossemos obrigados a
finalizar a leitura de um livro que iniciamos.
Eu, enquanto leitor, nos últimos anos, apresentei
manifestações desse complexo, de forma que não largo uma leitura incompleta há
muito tempo. Recentemente, lendo certo livro, me vi diante de um dilema: rejeitá-lo ou continuar a leitura por pura teimosia. No primeiro caso, essa opção foi
considerada porque o livro não estava me agradando, era algo bem diferente do
que eu esperava; descartável, na verdade. Quanto ao segundo, era a expressão
inconteste da necessidade de completude.
Bem, parei para pensar, eu poderia sim continuar a leitura,
e, enfim, concluir o livro. Mas o que eu ganharia com isso? Apenas a satisfação
subjetiva de uma necessidade questionável. Quanto a abrir mão dessa leitura, eu
poderia imediatamente me lançar na leitura de algo mais interessante, substancial
e útil.
Então, não apenas sobre esse livro – que decidi por fim
abandonar – cheguei a uma conclusão: livros que nada tem a oferecer devem ser
abandonados sem qualquer remorso. Complexos de culpa – dessa natureza específica – podem
ser superados, mas o tempo perdido em uma leitura infrutífera pode significar o
abandono indireto de algo mais valioso.