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terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

HHhH (Laurent Binet)

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Autor: Laurent Binet
Nº de páginas: 344
Editora: Companhia das Letras
Série/Saga: -
Nota: 4/5













“...os que morreram estão mortos e não lhes faz diferença serem homenageados. É para nós, os vivos, que isso significa alguma coisa. A memória não tem utilidade nenhuma aos que ela honra, mas serve quem a busca. Com ela me construo, e com ela me consolo.”
A 2º Guerra Mundial é um dos acontecimentos histórias mais fascinantes da história da humanidade. A literatura, então, tem se ocupado de forma bastante insistente na tradução desse período – tanto a ficção quanto a não ficção. Os relatos se reproduzem aos montes. Com isso, embora seja realmente difícil esgotar o tema, nada impede que ele se torne, de algum modo repetitivo. A literatura tem que assim por a criatividade em marcha e tentar atrair o leitor para um mesmo assunto, todavia com uma abordagem menos convencional. Creio que certamente é este o intuito de HHhH. Devo dizer, Binet foi bem sucedido.
“Heydrich é o protótipo do nazista perfeito: alto cruel, totalmente obediente e de uma eficiência mortal.”
HHhH é a acrônimo alemão para o cérebro de Himmler se chama Heydrich. Nessa história conhecemos o desenrolar da Operação Antropóide, que se destinava a executar um dos maiores representantes do horror nazista: Reinhard Heydrich, também conhecido como o açougueiro de Praga, ou o homem mais perigoso do Reich.

Para chegar a esse ponto Binet primeiro nos insere nas teias de Heydrich. É preciso conhecer o alvo. Perceber sua evolução, a forma como ele galga os degraus dentro do regime, ocupando a função de chefe da Gestado e segundo homem no comando da temida SS, até alcançar a posição de protetor da Boêmia-Morávia.

É também preciso conhecer a história da resistência e perceber como dois homens resolvem colocar a sua vida a disposição de seu país, para infringir um possível golpe ao regime nazista e mostrar que a resistência tcheca ainda vive.  Assim conhecemos Jan Kubiš e Jozef Gabcík, os responsáveis imediatos pela Operação Antropóide.

Poderia ser mais uma trama acerca de uma das infindáveis operações executadas durante o conflito. É claro que o é. Mas não somente. Nesse ponto Binet mostra sua qualidade enquanto escritor, apresentando sua história de uma forma diferente, curiosa e inteligente. O autor não se restringe a tarefa de descrever os fatos, Binet intervém nos acontecimentos e aí acontece um processo de fusão no qual a realidade e a inventividade são tenuamente discerníveis. Não apenas na (re)criação de cenas, Binet também se faz presente na narrativa. O leitor é apresentado às perspectivas do autor, suas dúvidas, seu fascínio pelos acontecimentos e por seus personagens reais.

Essa qualidade criativa se junta também ao relato histórico. Ainda que o autor faça suas intervenções históricas, nada compromete a apresentação do cenário sufocante que é a guerra e os diferentes círculos que nela se formam. O foco dado à figura de Heydrich não restringe o cenário do autor. Percebemos não apenas a presença dessa figura central no regime, também somos levados ao interior dos quadros nazistas, a seus monstros ilustres (Himmler, Göring, Eichman, Hitler e companhia limitada). Binet, então, faz cotejar ainda os acontecimentos históricos que têm lugar em sua narrativa. A solução final, os horrores e erros cometidos pelo regime.

Com isso, Laurent Binet constrói uma história com um ritmo atraente, seus personagens (não seus na verdade, mas é como se fossem) acabam por atrair o interesse do leitor. O desenrolar dos acontecimentos aproxima o leitor dos atores envolvidos e até o desfecho final, embora, talvez, já o saibamos, Binet consegue entreter. Admirável, sem mais.

“A história é a única verdadeira fatalidade: pode-se relê-la em todos os sentidos, mas não se pode reescrevê-la.”
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