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segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

A Nascente Vol. I e II (Ayn Rand)

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Autor: Ayn Rand
Nº de páginas: Vol.1 - 432 e vol.2 - 360
Editora: Arqueiro
Série/Saga: A Nascente - Vol. 1 e 2
Nota: 5/5










“Em nome de que direito concebível alguém pode exigir que um ser humano exista para qualquer coisa que não seja a sua própria alegria?” p. 189 vol.2 
Entre os diversos tipos de romance existentes a díade personagem-cenário pode assumir, genericamente, dois formatos: o primeiro diz respeito às situações em que o personagem é um meio para se apresentar um cenário maior; o segundo caso é aquele em que o cenário é meramente uma forma de ressaltar o personagem. (Claro, deve existir uma terceira via, a do equilíbrio). Em se tratando de A Nascente o cenário é apenas uma forma para se apresentar o modelo de “homem ideal”. Corporificado em Howard Roark.

Howard Roark é um desajustado. Expulso da faculdade de arquitetura, deslocado socialmente, solitário e individualista. Um homem determinado a negar os padrões de uma sociedade com a qual não se identifica. Esse é o herói de Ayn Rand, A Nascente é um romance que cria as condições para que tal figura possa emergir. Desde a juventude Roark se recusou a assumir normas sociais. Após abandonar a faculdade de arquitetura, decidiu seguir seus próprios padrões arquitetônicos. Se recusando a aceitar o estilo histórico, e trabalhando tão-somente no estilo modernista, o qual ele acredita e respeita seus padrões racionais. Mas a integridade e os preceitos de Roark são colocados em cheque. A sociedade está demasiadamente calcada em tradicionalismo, conservadorismo e parasitismo para adotar seu modelo arquitetônico, ou assumir uma postura criativa. Apesar disso, mesmo diante da possibilidade do desemprego, Roark é inexorável em seu posicionamento. Se predispondo a realizar trabalhos manuais a ter de ceder sua posição. Assim um cenário de dificuldade e desafios se põe no caminho de Howard Roark.

Entretanto, Roark não domina toda a cena. Apesar de sua centralidade uma alegoria de outros personagens se faz presente. Especialmente, os elementos que terão de por a prova a tenacidade do herói e os representantes ilustres da “feiúra do mundo”. Uma jovem mulher que se recusa a ter qualquer relacionamento profundo; um magnata poderoso que é uma incógnita; um jornalista ambicioso, e um arquiteto que representa a debilidade humana. Desse elenco vale a pena ressaltar a figura de Peter Keating. Keating é o inverso de Roark. Um jovem arquiteto com uma carreira aparentemente promissora. Mas um homem que vive em condições de subordinação; sequioso de agradar os outros, vivendo pela aprovação alheia, e um profissional que não sabe o que é amar o seu ofício. Um exemplar de parasitismo humano. 

O papel coadjuvante do enredo não diminui sua relevância. O quadro criado por Ayn é capaz de comportar as condições para seu “homem modelo”. A arquitetura é a expressão de arte adotada. E é sobre os seus fundamentos que será travada a batalha acerca da verdadeira capacidade humana.

É importante notar, apesar de ficcional A Nascente é um romance filosófico que coaduna parte importante do pensamento de Ayn Rand. Sua perspectiva acerca do homem assume aqui status de grandeza. Ela traz a tona uma idéia antiga: a busca egoística do interesse individual tende a promover o interesse comum. A individualidade, a racionalidade, a autodeterminação, e o egoísmo - sem quaisquer constrangimentos -, são elementos fundamentais na obra da autora. Rand se levanta contra toda e qualquer forma de coletivismo. Entende a organização coletiva como a forma de promoção de pessoas individualmente incapazes – também personalizados no romance. E é com base nesses fundamentos que é erigida A Nascente. Assim, não é por acaso que a autora causou e causa polêmica.
 “- É interessante especular sobre as razões que tornam os homens tão ansiosos para se rebaixarem a si mesmos. Como naquela idéia de se sentir pequeno diante da natureza. Não é só uma idéia popular, é praticamente uma instituição. Você já notou como um homem se sente virtuoso quando fala sobre isso? Ele parece dizer: ‘Olhe eu estou tão satisfeito por ser um pigmeu, veja como sou virtuoso.’” [...]” p. 70 vol.2
É possível notar elementos louváveis na obra de Rand. A crença inabalável dada construção de um modelo humano de integridade irremovível, e mesmo, a veneração que a autora tem pelo Homem. Para ela, o Homem é o único fim em si mesmo. E talvez seja esse o ponto mais essencial de sua produção: a exaltação do gênero Humano. Em relação aos demais elementos, creio que a autora assumiu uma inocência notável – pra não dizer uma disposição idealista e utópica. Não creio que seja concebível seu liberalismo radical, ainda que a liberdade seja fundamental. O destaque na busca do interesse egoístico é outro aspecto a ser questionado. O modelo heróico erigido não parece ser de todo possível.

Além dos elementos filosóficos presentes na obra, há que se destacar a qualidade romanesca do trabalho de Rand. Os personagens construídos pela autora são, em essência, complexos. Temos figuras com objetivos claros, mas existem também os indivíduos dúbios, com interesses questionáveis, romance e, acima de tudo, a necessidade de satisfazer alguns questionamentos: Será que Howard Roak irá perseverar até o fim? E caso consiga, qual será o seu futuro?

Um dos maiores méritos de Ayn Rand é abordar um assunto extremamente delicado de forma ficcionalizada mantendo a coerência do romance – com personagens interessantes, um enredo digno e uma narrativa atraente - em consonância com a integridade ideológica. Independentemente do alinhamento ideológico, A Nascente é um livro que se faz necessário. Uma obra brilhante. 



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