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sexta-feira, 4 de julho de 2014

Os Três (Sarah Lotz)

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Autor: Sarah Lotz
Nº de páginas: 400
Editora: Arqueiro
Série/Saga: -
Nota: 4/5













Quinta-Feira negra, este é um dia que ficará para sempre gravado na memória da humanidade. Quatro aviões caíram. Em quatro continentes diferentes, todas as aeronaves de marcas diferentes, e nenhum dos acidentes tem uma causa identificável. Três crianças sobreviveram. E um mulher conseguiu viver por tempo suficiente para mandar uma mensagem:
Eles estão aqui.
O menino. O menino, vigiem o menino, vigiem as pessoas mortas, ah, meu deus, elas são tantas... Estão vindo me pegar agora. Vamos todos embora logo. Todos nós. Pastor Len, avise a eles que o menino, não é para ele...
Pamela May Donald foi quem enviou essa mensagem por celular. E uma vez recebida, essa mensagem irá alterar o mundo.

Não bastante as circunstâncias misteriosas dos acidentes – eles caíram no Japão, Estados Unidos, Inglaterra e África do Sul, este foi o único que não identificou sobreviventes – as crianças que sobreviveram saíram quase incólumes de tragédias que não deveriam permitir nenhum sobrevivente, é um milagre. Além disso, as crianças sobreviventes começam a apresentar comportamentos peculiares - para não falar em perturbador. Hiro, no Japão, Jess, na Inglaterra, e, Bobby Small, dos Estados Unidos, se veem cada vez mais cercados de atenção e especulação.

Em consequência dos acidentes e das sobrevivências miraculosas e, sobretudo, a mensagem de Pamela, suscitam o pastor Len. A partir de então ele começa a pregar que esses acidentes têm significados bíblicos, que podemos estar próximos do fim dos tempos, o apocalipse. E o mais aterrador é que talvez as crianças não sejam mais elas mesmas. Para além da eloquência evangélico-apocalíptica do pastor, outros religiosos e também teorias da conspiração ascendem para tentar explicar os acidentes e prever o que virá depois. Muito mais que sensacionalismo midiático, a situação assume um caráter mais sinistro e o mundo não será mais o mesmo.

É preciso reconhecer que Sarah Lotz concebeu uma trama com pretensões apocalípticas bastante interessante. Mas, seu maior êxito é na forma como ela construiu a narrativa. Diferentemente do que nos habituamos a ver, a construção de Os Três é curiosamente um livro dentro de um livro (tudo bem, isso não é tão inédito assim), adicionalmente, e ainda mais relevante, é a disposição formal do livro, dos capítulos. Não se trata simplesmente de uma narrativa em primeira pessoa, mas de trabalho jornalístico – escrito por Elspeth Martins, a jornalista - que se vale de entrevistas, depoimentos, gravações transcritas, conversas em chats e relatórios. Esses são os capítulos do livro e nisso reside um grande mérito de Sarah Lotz, ela sob tratar de um tema corrente – na literatura, claro -, de maneira inovadora.

Se por um lado essa narrativa com teor eminentemente jornalístico é uma das maiores vantagens do livro; por outro lado ela, por sua própria natureza jornalística, mantém o leitor mais ligado aos fatos que aos personagens.


Em seu conjunto, Os Três é um livro de ritmo intenso. O leitor é mantido sempre no escuro, o que nos é oferecido nos permite apenas especular. A fronteira entre as possibilidades reais e imaginárias é bastante tênue. A forma de contar a história fornece maior potência na geração do suspense. E, bem, o final não é o que se poderia chamar de esclarecedor. Durante todo o livro somos mantidos nas sombras, cheios de perguntas e dúvidas. O final, por sua vez, ao invés de elucidar a questão, oferece na verdade mais perguntas e deixa insolúvel, ou a solucionar o mistério dos três. Sarah Lotz deve a seus leitores respostas, portanto, uma continuação. Espero ver o trabalho de Elspeth Martins em novo volume. Leia e descubra Os Três. 


quinta-feira, 26 de junho de 2014

Lançamento de Nosferatu (Joe Hill)

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A editora arqueiro vai lançar dia 8 de julho Nosferatu, de Joe Hill. Hill já tem publicado no Brasil três livros, os romances, A estrada da noite e o Pacto, e, o compilado de contos, Fantasmas do século XX. Além de ter uma tradição familiar no gênero horror – ele é filho de ninguém menos que Stephen King – Hill já ganhou dois Bram Stoker e, Nosferatu foi indicado para o prêmio ano passado. Confira a seguir capa e sinopse do livro.

“Um dos melhores autores de terror dos Estados Unidos.” – Time]

“Hill é tão habilidoso que, até o fim, não sabemos aonde a história irá nos levar. Sua narrativa é muito original e, para os fãs de terror com um tom irônico, um deleite incomparável.” – Kirkus Reviews 




Victoria McQueen tem um misterioso dom: por meio de uma ponte no bosque perto de sua casa, ela consegue chegar de bicicleta a qualquer lugar no mundo e encontrar coisas perdidas. Vic mantém segredo sobre essa sua estranha capacidade, pois sabe que ninguém acreditaria. Ela própria não entende muito bem. 
Charles Talent Manx também tem um dom especial. Seu Rolls-Royce lhe permite levar crianças para passear por vias ocultas que conduzem a um tenebroso parque de diversões: a Terra do Natal. A viagem pela autoestrada da perversa imaginação de Charlie transforma seus preciosos passageiros, deixando-os tão aterrorizantes quanto seu aparente benfeitor. 
E chega então o dia em que Vic sai atrás de encrenca... e acaba encontrando Charlie. 
Mas isso faz muito tempo e Vic, a única criança que já conseguiu escapar, agora é uma adulta que tenta desesperadamente esquecer o que passou. Porém, Charlie Manx só vai descansar quando tiver conseguido se vingar. E ele está atrás de algo muito especial para Vic. 
Perturbador, fascinante e repleto de reviravoltas carregadas de emoção, a obra-prima fantasmagórica e cruelmente brincalhona de Hill é uma viagem alucinante ao mundo do terror.


sexta-feira, 6 de junho de 2014

Doze Anos de Escravidão (Solomon Northup)

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Autor: Solomon Northup
Nº de páginas: 280
Editora: Penguin-Companhia
Série/Saga: -
Nota: 4/5











“Enganam-se aqueles que dizem que o escravo ignorante e sem estudo não tem ideia da magnitude das injustiças a que é submetido. Enganam-se aqueles que imaginam que, ajoelhado, ele se põe de pé com as costas laceradas e sangrando, cultivando apenas o espírito de submissão e de perdão. Um dia pode vir 0 virá, se sua prece for ouvida -, um dia terrível de vingança, quando será a vez de o senhor gritar em vão por misericórdia.”
Há nas autobiografias e biografias – as de qualidade, é claro - uma característica que muito aprecio: a capacidade de transcendência. Trata-se daquelas histórias pessoais que conseguem ultrapassar a suas particularidades e contam ao leitor muito mais que o drama pessoal ali centralizado. Esse é um dos grandes méritos de Doze anos de escravidão, de Solomon Northup.

Solomon Northup nasceu livre. Negro residente de uma cidade do norte dos Estados Unidos, Solomon constituiu família, casou-se e teve três filhos. Em sua cidade destacou-se como cidadão respeitado, especialmente pela sua qualidade como violinista; ainda que tenha desenvolvido uma série de outras atividades.

Livre, alfabetizado, independente, Solomon não conhecia as mazelas as quais estavam destinados seus semelhantes. O que estava prestes a mudar. Quando certo dia o violinista é convidado por dois senhores a lhes acompanhar para que os auxilie no circo do qual são donos. Era um trabalho de remuneração considerável, o que levou Solomon a aceitar a empreitada. Seria o fim da sua ignorância sobre os desmandos da escravidão.

Após um curto período de viagem, quando depois de uma noite insone e cheia de dores, Solomon Northup acorda acorrentado. Estava então em uma casa de comercialização de escravos, em Washington, diante do capitólio. As tentativas de Solomon de requerer sua imediata liberdade, uma vez que havia nascido livre, lhe renderam uma repreenda dolorosa. Ficaria evidente que a partir de então ele não poderia reivindicar sua liberdade, o que colocaria sua vida em risco. E por 12 anos ele guardou esse segredo.

Assim, depois de algumas transações, Solomon Northup chega a Louisiana, as margens de Bayou Boeuf, seu nome agora é Platt. Diante de sua nova condição, Platt conheceria a perfídia da escravidão. Posse de uma série de senhores, ele poderia atestar as condições da escravidão sobre os diversos temperamentos dos senhores de escravo. Nesse ponto, ganha vulto a narrativa de Solomon Northup.

O mérito do trabalho de Northup é a capacidade de ao mesmo tempo em que conta sua própria história, ele consegue perfilar um retrato verídico da escravidão e da condição de escravo. Um aspecto a ser notado é que a trajetória de Solomon é inversa ao caminho comum da escravidão-liberdade, sua história segue o eixo liberdade-escravidão. E, talvez, por isso sua percepção seja tão pertinente. 

O quadro que Northup constrói passa pelo processo de venda, transação do escravo entre senhores, as condições de trabalho e de vivência do escravo à forma como estes estão subjulgados. Definitivamente, um retrato da escravidão. Isso é feito com grande provisão de detalhes, Solomon tem um olhar bastante acurado, tecendo uma sistemática da escravidão tal como ele pôde perceber.

Falando do livro é necessário fazer referência ao filme que brilhantemente complementa e rebusca a história de Solomon Northup. Um livro que merece ser lido, um filme que vale a pena ser assistido. Doze anos de escravidão é uma obra que merece destaque por aquilo que representa. 

"A influência do sistema iníquo necessariamente forja um espírito insensível e cruel, até mesmo no peito daqueles que, entre iguais, são vistos como humanos generosos."


terça-feira, 3 de junho de 2014

Leituras para 2014

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Fazer lista de leituras não é uma das práticas que mais aprecio. Ainda assim, elas tem a vantagem de dar alguma orientação – especialmente em casos nos quais a velocidade com que a lista de desejados cresce segue uma tendência quase geométrica.

Então, o intuito dessa lista é, antes de seguir um rigor cronológico, apresentar alguns livros que me chamaram a atenção e que tenho a intenção de ler até o fim do ano.

A morte dopai  (Karl Ove Knausgård)

A companhia das letras lançou esse livro ano passado e desde então várias críticas positivas tem sido escritas sobre o livro. Esse ano, foi lançado o segundo, Um outro amor, e a empolgação segue em alta. Curiosamente, o que mais me interessou nesse livro é o fato de que as pessoas não conseguirem explicar bem como foram tão atraídas pelo livro. Um mistério que pretendo descobrir.

O Inverno da nossadesesperança (Jonh Steinbeck)

Já li desse autor Ratos e Homens e Vinhas da Ira. Só posso dizer que ele é.... incrível. Dos melhores. O cara é tão bom que despertou meu interesse para todo um rol de autores americanos da primeira metade do século XX. Não vou me alongar sobre, mas leiam, me repito, é incrível.

Admirável mundonovo (Aldous Huxley)


Estou em débito com as distopias do século XX, e além de querer reler 1984, do Orwell, tenho que ler Admirável mundo novo. Parece ser um livro dos melhores, aliás, faz parte do trio de grandes distopias do século passado ao lado de Laranja Mecânica e 1984. 

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Essa lista poderia se estender. Mas por hora basta.  

domingo, 11 de maio de 2014

Na Mente, o Veneno (Andrea H. Japp)

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Autor: Andrea H. Japp
Nº de páginas: 272
Editora: Vertigo
Série/Saga: Diane Silver #1
Nota: 3,5/5










“O medo é uma reação animal, hormonal, poderosa, uma manifestação do instinto de sobrevivência.” p.9
Andrea H. Japp é uma autora francesa que está entre as rainhas francesas do crime. Em Na mente, o veneno Japp inaugura a série protagonizada pela profiler do FBI, Diane Silver.

Diane Silver é um profissional de renome internacional. Profiler de alto gabarito, sua fama profissional se equipara a suas referências pessoais. Ela é tida como uma pessoa extremamente difícil, geniosa, sistemática. Na verdade, Diane é uma mulher despedaçada, que busca pelas vias do trabalho esconder sua infeliz condição. Essa situação é fruto da perda da filha; sequestrda por sua serial killer e brutalmente assassinada. Depois disso, Diane Silver decidiu dedicar sua vida à tarefa de perseguir homens como os que feriram sua filha.

Recentemente, a profiler se vê às voltas com uma série de assassinatos de prostitutas. Mas dada a condição dessas mulheres a polícia não está tão preocupada, o que não esmorece a tentativa de Diane de traçar o perfil do assassino.

Enquanto isso, do outro da do atlântico, na França, uma série de ocorrências fatais chama a atenção do investigador Yves. Assassinatos violentos de jovens e motivações obscuras. O assunto acaba chegando ao conhecimento de Diana. Yves é certamente o único amigo de Diana; ele foi seu aluno nas técnicas de profiling.

Em meio a tudo isso, um assassino preciso ronda diferentes continentes e promove execuções agressivas. Nesse caso, se trata de um perfil realmente perturbador, de formulação difícil. Será papel de Diane Silver buscar identificar um perfil o mais exato possível para auxiliar a polícia na captura desses indivíduos.

Diane Silver é uma personagem problemática. Ferida pela morte da filha ela se tornou uma espécie de fera em constante estado de acuação pronta para desferir um ataque à primeira tentativa de aproximação. Seus posicionamentos são muitas vezes radicais, ela é uma mulher decidida, definitivamente, uma caçadora. E caça é um dos pontos altos do romance de Japp.
“Nós somos uma espécie bastante fabulosa, na qual alguns elementos estão corrompidos. Seriamente corrompidos. Nenhuma outra espécie possui elementos tão desequilibrados como a nossa. Nenhuma outra espécie possui elementos tão geniais, tão mágicos como a nossa.” p. 235
Japp construiu uma trama interessante. Ainda que o mistério necessitasse de maior “ocultação”, parece que nesse volume inaugural a atenção maior foi dada a problemática do desenvolvimento dos personagens, notadamente de Diane Silver. Apesar disso, o livro tem um ritmo acelerado, e sua leitura não é dificultada. Os diálogos são uma parte realmente interessante, e acabam por levantar questões polêmicas, como a punição adequada para criminosos em série.

Em resumo, Andrea H. Japp apresenta ao leitor uma história centrada em uma personagem problemática, que reserva momentos curiosos para o futuro. 

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Promoção – Lua Vermelha

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O Sempre Lendo em parceria com a editora Arqueiro traz a promoção valendo um exemplar de Lua Vermelha. Na história um conjunto de personagens é colocado em um contexto de extrema violência, até que a noite da Lua Vermelha transforma para sempre o futuro da humanidade. A resenha do livro pode ser conferida AQUI
As regras para participação estão contidas no formulário. 


“A violência é o que define a humanidade, é ela que determina manchetes, decide eleições e estabelece fronteiras; o mundo inteiro se reduz à questão de quem bate em que com mais força.” p. 322



a Rafflecopter giveaway


Atualização

A vencedora da promoção foi a Cristiane Oliveira. Obrigado a todos pela participação. 


Conforme disposição das regras a vencedora tem até dois dias para responder o e-mail enviado, caso contrário será realizado novo sorteio.

terça-feira, 22 de abril de 2014

Lua Vermelha (Benjamin Percy)

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Autor: Benjamin Percy
Nº de páginas: 432
Editora: Arqueiro
Série/Saga: 1
Nota: 4,5/5









“A violência é o que define a humanidade, é ela que determina manchetes, decide eleições e estabelece fronteiras; o mundo inteiro se reduz à questão de quem bate em que com mais força.” p. 322
Criaturas como vampiros, lobisomens e similares, frequentemente tiveram sua natureza relacionada ao sobrenatural. Mas nem sempre. Há uma linha de abordagem segundo a qual a origem desses seres passa a ser permeada por cientificidade. Duas séries lançadas no Brasil representam essa tendência, A Passagem, de Justin Cronin, com vampiros e Lua Vermelha, de Benjamin Percy. Falemos do segundo.

Claire Forrester é um jovem prestes a completar o ensino médio quando tem sua vida subitamente transformada. Certa noite sua casa é invadida por tropas e seus pais sumariamente assassinados. O detalhe é que Claire não é um jovem normal, ela é um licana e agora tem de fugir para que não encontre o mesmo fim dos seus pais.

Patrick Gamble está de mudança, seu pai vai partir para uma missão no exterior e ele passará um tempo na casa da mãe, em outro estado, praticamente uma nova vida. Patrick é um humano, mas como tal ele logo se verá lançado no eterno embate entre humanos e humanos “licanos”. Um acontecimento vai lhe angariar o título de Menino-Milagre.

O governador do Oregon, Chase Willians, reforça o sentimento de adversidade entre os cidadãos. Assume um discurso segregacionista, buscando limitar ainda mais os direitos dos licanos. Com o discurso ácido o governador começa a elevar suas chances de chegar à presidência.

A Resistência, um movimento licano radical, tem realizado uma série de atos terroristas, sequestros, bombas, assassinatos em massa. De ambos os lados as posições têm se extremado, os indivíduos, licanos ou não, acabam por serem lançados nessa maré de ódio.

A vida de nenhum dessas pessoas será mais a mesma. Eles estão prestes a vivenciar um período de escuridão. A noite da Lua Vermelha se aproxima, e com ela um futuro no qual a humanidade se modificará.

Inteligente é um adjetivo que bem comporta o trabalho de Benjamin Percy. O que se apresenta na narrativa bem construída, com riqueza de detalhes, personagens bem caracterizados, revelações surpreendentes. Tudo isso ornado por uma atenção aos detalhes digna de nota. Mas não somente isso. Gamble, por meio de suas criaturas, parece fazer uma metáfora da realidade humana. Ele faz uma grande simplificação, as pessoas estão divididas entre homens e homens licanos, portanto, todos os preconceitos - de qualquer ordem - se restringem a esses polos. Com efeito, de um lado temos humanos ofendidos pela presença de seres demasiadamente diferentes, que precisam ser controlados, segregados, isolados. As reações às fricções provenientes dessa situação são muito bem trabalhadas. Movimentos de resistência, pacíficos, violentos, indiferentes.
“O licano se move tão depressa que Patrick quase não consegue distingui-lo ou gravar uma mensagem; sabe apenas que se parece com um homem, só que coberto por uma penugem cinza (...). Seus dentes cintilam. (...) O sangue espirra e tinge as janelas do avião, pinga do teto. Às vezes a coisa está de quatro, outras vezes equilibrada nas patas traseiras. É corcunda. Tem a cara dominada por um focinho achatado e dentes compridos e afiados como dedos magros, o sorriso ossudo de uma caveira. E as pastas, imensas, ornadas por longas unhas, estão avidamente esticadas e rasgam o ar. O rosto de uma mulher é arrancado feito uma máscara. O intestino é removido de um ventre. Um pescoço é devorado até o osso em um beijo apavorante. Um menininho é puxado e arremessado contra a parede, fazendo silenciar seus gritos.” p. 19
Para completar o cenário Gamble acrescenta cenas de ação, violência e acontecimentos atraentes durante toda a leitura. Os personagens estão sujeitos às condições mais adversas, e há uma tendência no autor de eliminar indivíduos sumariamente relevantes. O final reserva uma surpresa esmagadora.

Lua Vermelha surge como um livro de abordagem inventiva, formado a partir de ideias inteligentes, o que só poderia render uma ótima leitura. Patrick Gamble merece a atenção do leitor. Em definitivo. 



terça-feira, 8 de abril de 2014

Ratos e Homens (John Steinbeck)

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Autor: John Steinbeck
Nº de páginas: 144
Editora: L&PM
Série/Saga: -
Nota: 5/5









“Ele é um bom sujeito – disse Slim. – A gente num precisa sê inteligente pra sê bom. Às veiz, eu fico achando que é bem o contrário. Se a gente pega um sujeito bem isperto, ele quase nunca é um sujeito bom de verdade”
John Steinbeck é um dos maiores nomes da literatura americana. Vencedor do prêmio Pulitzer, tendo acumulado posteriormente o Nobel de Literatura. A obra mais conhecida do autor é As Vinhas da Ira. Mas decidi conhecer o autor por uma de suas obras “menores”, Ratos e Homens.

Em Ratos e Homens somos apresentados a uma dupla de trabalhadores rurais. George e Lennie. Embora estejam juntos há muito tempo os dois são figuras bem diferentes. George é um tipo mais compacto, consciente e decidido. Já Lennie incorpora o estereótipo do gigante tolo, ingênuo, que apesar de possuir uma força descomunal não tem sentido dela. Com isso, institui-se uma relação de dependência entre os dois. George é a mente, Lennie é a força. Ainda assim, existe um sentimento de companheirismo entre os dois, amizade talvez. Em um mundo no qual os trabalhadores vivem caminhando isolados é muito bem vindo ter um parceiro.

Os dois estão a caminho do seu próximo emprego. Trabalhar em uma fazenda de cevada. Antes eles trabalhavam em outra cidade, mas tiveram de fugir. Ao que parece Lennie cometeu alguma tolice, e não é a primeira. Nesse novo emprego os dois acalentam o plano de juntar dinheiro para poderem realizar seu sonho. Comprar um pedaço de terra e viver dela. Construindo uma espécie de paraíso particular. Com plantas, animais e uma vida tranqüila. Parece que tudo depende de Lennie não fazer nenhuma besteira.
“Claro que todo mundo qué isso. Todo mundo qué um pedacinho de terra, nem precisa sê muito. Só uma coisinha da gente. Só uma coisa pra sobrevivê, e pra ninguém podê ixpulsá a gente de lá. Eu nunca tive nada. Já trabalhei nas plantação de quase todo mundo desse estado, mas as plantação num era minha, e quando eu fazia colheita, a colheita nunca era minha. Mas agora a gente vai consegui, e também num vai fazê nenhum erro.”
A premissa do livro é bem simples. Parece se tratar apenas da condução da vida confusa e conturbada de trabalhadores rurais. Steinbeck não para por aí. Claro que o elemento da observação social se faz presente. Não apenas pela percepção do trabalhador rural, mas também na questão do racismo e da segregação. E outro ponto muito importante: a relação entre seres humanos.

Lennie é a figura central em Ratos e Homens. É um personagem que muito me lembrou, o também gigante, Jonh Coffey, do filme À Espera de um milagre. Não pelo que eles têm de comum, mas pelas suas diferenças. São homens de rara força física, que não tem noção desse poder. São figuras de todo simples, e na acepção mais pura, inocentes. Contudo, Coffey impressiona pelo contraste entre seu tamanho e sua delicadeza. Já Lennie é tudo, menos delicado. O que considerando sua capacidade física e suas restrições mentais oferece uma receita perigosa. George é um personagem a ser considerado, sua relação com Lennie, ainda que não seja de todo conveniente, assumiu um caráter de inércia. Eles começaram amigos e assim continuarão. Afinal, é preciso que um tome conta do outro. Mesmo que seja George o responsável por Lennie.

Ratos e Homens não é um livro alegre. Em absoluto. Não é oferecida ao leitor uma bela história de satisfações de anseios rurais. Steinbeck apresenta ao leitor uma história, em essência, triste. De modo nenhum desassociada da realidade. E que traz em seu curso a acusação da crueldade humana, da dificuldade dos relacionamentos entre seres humanos, e da fragilidade dos sonhos terrenos.


quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Lançamento - Os Três (Sarah Lotz)

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A editora Arqueiro já anunciou seus lançamentos para os meses de março, abril e maio. Dentre os destaques está Os Três, de Sarah Lotz. O livro está prevista para o dia 22 de maio. 

A história assume o mesmo tom apocalíptico de A Passagem e Lua Vermelha, duas séries lançadas pela editora. Em The Three o centro de abalo parece girar em torno de três crianças, supostamente cavaleiros do apocalipse. Confira a seguir a capa original, a sinopse e o booktrailer.


Quatro acidentes aéreos simultâneos. Três crianças sobreviventes. Um fanático religioso que insiste os três são arautos do apocalipse. E se ele estiver certo? 
O mundo fica surpreso quando quatro aviões se acidentam simultâneamente em diferentes continentes. Diante do pânico global, funcionários estão sob pressão para encontrar as causas. Com os ataques terroristas e os fatores ambientais descartados, não parece haver uma correlação entre as falhas, só que em três dos quatro desastres aéreos uma criança sobrevivente é encontrada nos destroços. Apelidado de 'The Three' pela imprensa internacional, todas as crianças apresentam problemas de comportamentos perturbadores, presumivelmente causados pelo horror que viveram e o implacável assedio da imprensa. Essa atenção torna-se mais do que apenas intrusiva quando um culto liderado por um pastor evangélico carismático insiste que os sobreviventes são três dos quatro arautos do apocalipse. Os três são forçados a se esconder, mas como o comportamento das crianças torna-se cada vez mais preocupante, até os guardiões começam a questionar a sua sobrevivência milagrosa ...


   

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

HHhH (Laurent Binet)

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Autor: Laurent Binet
Nº de páginas: 344
Editora: Companhia das Letras
Série/Saga: -
Nota: 4/5













“...os que morreram estão mortos e não lhes faz diferença serem homenageados. É para nós, os vivos, que isso significa alguma coisa. A memória não tem utilidade nenhuma aos que ela honra, mas serve quem a busca. Com ela me construo, e com ela me consolo.”
A 2º Guerra Mundial é um dos acontecimentos histórias mais fascinantes da história da humanidade. A literatura, então, tem se ocupado de forma bastante insistente na tradução desse período – tanto a ficção quanto a não ficção. Os relatos se reproduzem aos montes. Com isso, embora seja realmente difícil esgotar o tema, nada impede que ele se torne, de algum modo repetitivo. A literatura tem que assim por a criatividade em marcha e tentar atrair o leitor para um mesmo assunto, todavia com uma abordagem menos convencional. Creio que certamente é este o intuito de HHhH. Devo dizer, Binet foi bem sucedido.
“Heydrich é o protótipo do nazista perfeito: alto cruel, totalmente obediente e de uma eficiência mortal.”
HHhH é a acrônimo alemão para o cérebro de Himmler se chama Heydrich. Nessa história conhecemos o desenrolar da Operação Antropóide, que se destinava a executar um dos maiores representantes do horror nazista: Reinhard Heydrich, também conhecido como o açougueiro de Praga, ou o homem mais perigoso do Reich.

Para chegar a esse ponto Binet primeiro nos insere nas teias de Heydrich. É preciso conhecer o alvo. Perceber sua evolução, a forma como ele galga os degraus dentro do regime, ocupando a função de chefe da Gestado e segundo homem no comando da temida SS, até alcançar a posição de protetor da Boêmia-Morávia.

É também preciso conhecer a história da resistência e perceber como dois homens resolvem colocar a sua vida a disposição de seu país, para infringir um possível golpe ao regime nazista e mostrar que a resistência tcheca ainda vive.  Assim conhecemos Jan Kubiš e Jozef Gabcík, os responsáveis imediatos pela Operação Antropóide.

Poderia ser mais uma trama acerca de uma das infindáveis operações executadas durante o conflito. É claro que o é. Mas não somente. Nesse ponto Binet mostra sua qualidade enquanto escritor, apresentando sua história de uma forma diferente, curiosa e inteligente. O autor não se restringe a tarefa de descrever os fatos, Binet intervém nos acontecimentos e aí acontece um processo de fusão no qual a realidade e a inventividade são tenuamente discerníveis. Não apenas na (re)criação de cenas, Binet também se faz presente na narrativa. O leitor é apresentado às perspectivas do autor, suas dúvidas, seu fascínio pelos acontecimentos e por seus personagens reais.

Essa qualidade criativa se junta também ao relato histórico. Ainda que o autor faça suas intervenções históricas, nada compromete a apresentação do cenário sufocante que é a guerra e os diferentes círculos que nela se formam. O foco dado à figura de Heydrich não restringe o cenário do autor. Percebemos não apenas a presença dessa figura central no regime, também somos levados ao interior dos quadros nazistas, a seus monstros ilustres (Himmler, Göring, Eichman, Hitler e companhia limitada). Binet, então, faz cotejar ainda os acontecimentos históricos que têm lugar em sua narrativa. A solução final, os horrores e erros cometidos pelo regime.

Com isso, Laurent Binet constrói uma história com um ritmo atraente, seus personagens (não seus na verdade, mas é como se fossem) acabam por atrair o interesse do leitor. O desenrolar dos acontecimentos aproxima o leitor dos atores envolvidos e até o desfecho final, embora, talvez, já o saibamos, Binet consegue entreter. Admirável, sem mais.

“A história é a única verdadeira fatalidade: pode-se relê-la em todos os sentidos, mas não se pode reescrevê-la.”