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segunda-feira, 15 de julho de 2013

Na Companhia das Estrelas (Peter Heler)

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Livro: Na companhia das estrelas
Autor: Peter Heler
Nº de páginas: 408
Editora: Novo Conceito
Série/Saga: -
Nota: 4/5







“Fiquei pensando: morrer é assim? Ser solitário dessa maneira? Estar fortemente ligado a uma grande quantidade de amor e passar por cima dela, ignorá-la?” P. 209

O que aconteceria se de súbito algo mudasse o mundo como o conhecemos? A literatura tem transitado pelo campo das especulações em relação a um futuro pós-apocalíptico. Mas, embora existam obras que se aprofundem nas consequências políticas e outras dimensões em um sentido universalizante. Outras optam por fazer uma abordagem mais simplista. Buscando tratar o futuro sobre uma ótica mais micro, sobre a perspectiva da memória, perda e esperança humana. É o que faz Na companhia das estrelas, de Peter Heler.

Hig é um homem de 40 anos, que já teve um passado, uma história, difícil de ser superada. Ele tinha uma casa, uma esposa, por quem era apaixonado, e esteve muito perto de ter um pouco mais que isso.

Mas de súbito, como se uma peça pregada pelo destino, esse mundo desmorona, e a esposa de Hig, bem como uma grande parte da população, é atingida por uma “gripe” pandêmica e por ela vitimada. 

Essa história ocorreu em outro tempo, há nove anos. Agora Hig, seu companheiro Jasper, o cão, Fera, um avião dos anos 1950, e Bangley, um velho durão, vivem no hangar de um aeroporto abandonado, sozinhos, isolados.  E essa situação pode mudar quando Hig, pela primeira vez, recebe uma resposta de uma base aérea.

Na companhia das estrelas não é um livro que ganha o leitor logo de início. A princípio pode parecer uma história um tanto quanto enfadonha. Mas é um livro que vai ganhando o leitor com o desenrolar das páginas e dos acontecimentos. Conforme avancei na leitura, após a hesitação inicial, me vi mergulhado em um universo desolado, que me era apresentado pela perspectiva de um ser humano, Hig, que contra todas as possibilidades ainda carregava em si alguma esperança.

A narrativa, e a própria condução da história, é feita por Hig. A forma como Hig o faz pode parecer incialmente um tanto confusa, pois o leitor ainda tem de se habituar a disposição simples, sem qualquer indicação, dos diálogos. E os diálogos são recorrentes. Bangley não é um companheiro amistoso, a parceria entre ele e Hig parece seguir apenas uma lógica de sobrevivência. Hig por outro lado tem uma necessidade de se comunicar, e o faz com Jasper e também em uma série recorrente de diálogos interiores.

Hig é o tipo de personagem que sobre as condições mais adversas, ainda tenta acreditar na bondade alheia. O que o diferencia de Bangley que adota a filosofia atire primeiro, pergunte depois. Enquanto Hig tenta sempre dar uma chance, o que por vezes lhe custa caro.

Apesar do que apresenta a sinopse, as aventuras de Hig e Jasper em uma aeronave antiga, o que de fato ocorre, o livro transcende essa descrição e avança em sentidos e caminhos mais extensos.

Peter Heler escreveu uma história cadente; a prosa do livro tem um tom poético, leve, dramático. Essa cadência pode conquistar o leitor, porém acredito que a chance de que isso ocorra estará relacionada à maturidade do leitor. Podendo ser uma experiência não totalmente satisfatória para marinheiros de primeiras viagens.


Na companhia das estrelas é um guia de sobrevivência diferente, com um personagem, ao mesmo tempo, inocente e sensível. Características que fazem desse livro uma oportunidade de se aventurar por um mundo desolado, mas que ao mesmo tempo parece não ter abandonado, de todo, sua humanidade. 
“(...) agora percebo que talvez o verdadeiro encanto só acontece no limbo. Não sei por quê. Será se é porque somos tão inconstantes, indecisos e sempre à espera? Como se a vida precisasse de muitas oportunidades, muito espaço para expandir. O não saber alguma coisa, a esperança, a dolorosa efemeridade: isso não é real, não como pensamos, e então deixamos passar, deixamos que se desenrole com leveza. O tempo voa. É assim que parece agora quando olhamos para trás.” P. 277



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